Na
semana passada tive uma experiência aterrorizante, quando decide abrir um livro
na casa de um amigo. Primeiro, como um simples leitor e, segundo, como designer
gráfico.
Eu
gosto de ler e, gosto de livros bem-feitos também. Ter passado por essa
experiência fez-me reflectir bastante sobre a importância de conhecer os
fundamentos básicos da comunicação visual, principalmente sobre o uso da
tipografia.
Ora,
só para ilustrar; o que aconteceu foi o seguinte, pedi permissão para apreciar
o livro – na verdade duvido que eu tenha pedido permissão – em todo caso,
peguei o livro e fiquei empolgado porque consegui adivinhar, de forma
intuitiva, que o livro fora produzido cá em Moçambique. Acredito que seja pelo
material usado, apesar de ser um material básico, eu achei interessante porque
existe o que chamamos de público-alvo, o que me fez reflectir ainda mais sobre
a possibilidade de ter se usado material de baixo custo por questões comerciais
de modo que disponibilizassem o livro a um preço acessível. Até ai, Oky!
Olhei
para capa, fiquei intrigado. Não conseguia desvendar possíveis categorias cujo
livro pudesse fazer parte. Era uma capa simples, pessoalmente, amo coisas
simples. A fonte tipográfica do título ”Juízo eleito” de cor amarela é
acompanhada por uma ilustração de martelo branco. A cor predominante é o
marrom, segundo Eva Heller (2013) o marrom é cor que as pessoas menos gostam e não
é só pelo simples facto de ser uma mistura de todas cores. Não obstante ser uma
cor de tendência na moda de roupa…
Marrom
combinado com amarelo surte um efeito positivo. Neste quesito, a capa ganhou um
belo destaque digno da minha congratulação. Abri o livro e fiquei confuso. A
fonte tipográfica não correspondia as expectativas criadas na capa. Ora, a
fonte tipográfica aliada a sua cor sugeriram que se trata se de uma aventura,
um romance. De facto, é um romance. Mas o corpo contradizia totalmente essa
ideia. Primeiro porque a fonte seleccionada foi uma sem serifa, principalmente
baseada em formas geométricas simples, acho que a fonte pertence a família
tipográfica futura, ou uma equivalente. O que não se adequa ao tipo do livro em
causa, isso porque é desgastante ter que ler de forma corrida um texto impresso
em fonte sem serifa, o que no mínimo resulta em deixar o leitor com sono,
frustrado ou fazer com que o leitor se sinta mal por não conseguir ler uma
página sem se perder durante a leitura.
Para
esse tipo de livros recomenda-se que se use fontes tipográficas serifadas, pois
adequam-se a leituras corridas, já que teoricamente, as serifas dão uma
sensação de continuidade e apoiam o leitor a conectar as letras mais
rapidamente. Como por exemplo, Garamond, palatino e etc.
Continuei folheando, e notei que o
espacejamento entre os caracteres era incómodo, perturbador. Há necessidade de
se pensar no ritmo de leitura e isso pede que haja um controle na configuração
da tipografia. Para não falar no facto de não haver uma coerência no tamanho da
fonte – Claro que existem livros que possuem vários tamanhos diversificado de
fonte tipográfica, mas isso está aliado a uma determinada função peculiar ao
livro. E não foi neste caso, especificamente. Havia total desordem na
configuração da fonte.
Entretanto,
colocar-se sempre no lugar da pessoa que irá receber os nossos produtos é
importante, não é simplesmente sobre ganhar dinheiro, é sobre educar para
ganhar dinheiro. E para tal, temos de educar a nós para que, possamos reduzir
os erros que podem afectar negativamente os outros. Por exemplo, há situações
em que alguém pode comprar um livro a fim de desenvolver um gosto pela leitura
e se depare com esse tipo de material; que percepção essa pessoa terá sobre a
leitura?
Por
fim, dizer que essa é uma opinião pessoal fruto da minha experiência, não
pretendo trazer verdades absolutas, apenas reflexões. Essa foi a minha
interpretação e é compreensível que outra pessoa tenha outro ponto de vista
diferente do meu. E a minha intenção não é de diminuir o livro, e sim fazer com
os designers, escritores possam reflectir nesses aspectos, aparentemente,
insignificantes. Nada acontece de forma isolada, nesse tipo de trabalho há
bastante colaboração entre autor, designer, revisor, pessoal das gráficas,
comerciante e etc.
É
nossa responsabilidade educar os que entram em contacto com o que concebemos.
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