Se já julgou o livro pela capa a culpa pode não ter sido sua

 

Sou uma pessoa que luta contra o preconceito. Mas há diferença entre algo criado pelo homem e o próprio homem.

No entanto, eu julgo livro pela capa. Enquanto o homem é um ser com características peculiares e geralmente imutáveis, o livro é um objecto projectado pelo homem e o mesmo tem o poder de manipular e influenciar para estrutura final do objecto. O livro não é só o conteúdo – a ideia que o autor pretende transmitir, e sim todo componente, desde a capa, fonte tipográfica, papel, ou seja, todos elementos que servem para dar suporte ao conteúdo que o livro pretende expor. Livro é um objecto.

Sobre a capa, acredito que há bons livros que nunca lemos devido a sua execução. Nem sempre é fácil passar a essência de um livro em apenas uma imagem, mas isso não significa que seja impossível. Por isso que existem designers gráficos, profissionais treinados para estruturar uma comunicação efectiva entre o que determinados autores pretendem transmitir para o seu público. Considerando que a capa, para além de proteger as páginas, serve para chamar atenção do público e convidar abrir  ou não a primeira página.

As vezes oiço pessoas reclamando que não conseguem terminar uma página sem cair no sono (falarei melhor sobre a influência da fonte tipográfica na leitura em outro artigo), geralmente, as respostas que costumo ouvir dos outros, inclusive eu já respondi que “deve ser porque não tens o hábito de leitura”. Sem descartar a possibilidade do desinteresse por parte do leitor e até a falta de hábito. Muito mais que isso o design tem a função de pelo menos influenciar a leitura através de componentes criteriosamente seleccionadas, caso contrário, os autores digitalizavam e convertiam o docx para PDF e mandavam imprimir! Felizmente não é o que acontece.

A produção de um livro é o casamento entre a arte e ciência. Começando pela própria capa que tem a função de destacar o livro na prateleira diante de milhares de livros. A capa é um convite, é o meio responsável por causar primeira impressão, e sejamos sinceros, quantos de nós já ignoraram certos livros pelo seu aspecto aparente? Aquele livro que não chamou-te atenção, mas estava bem ali “pausadasinho” a tua frente, as vezes empoeirado, e com pó que metaforicamente pode ser chamado de “barba branca” o grande livro que virou “madoda” na prateleira : D.

Outro fenómeno que acontece quando elabora-se uma capa é de, muitas vezes, extrair-se qualquer figura ou obra de um artista plástico renomado, por exemplo, Malangatana, e colocar na capa sem nenhuma preocupação conceptual e sem haver alguma relação entre o tema e o assunto que o autor pretende transmitir. Podemos classificar esse acto como golpe baixo, que por vezes funciona. Mas o livro perde sua própria identidade.

Elaborar capa é uma grande responsabilidade, é preciso dominar o conhecimento e as técnicas de linguagem visual. Existe enorme diferença entre o discurso e a linguagem visual, a segunda tem a sua particularidade e seus próprios princípios e quando for bem executada, pode aumentar as chances da venda do livro.

O próprio título pode ser criativo, mas se a fonte não for criteriosamente seleccionada consoante a categoria do livro, surtirá pouco efeito positivo ao espectador. Pode se dar o caso de usar-se uma fonte menos expressiva e optar-se por trabalhar mais na ilustração, foto e muito mais opções que poderão servir de suporte ao título. E desta forma, elevarem o livro ao destaque entre vários existentes na prateleira.

Por fim, frisar que o designer gráfico – o profissional responsável pela concepção de livro – intervém nesse processo como mediador entre o emissor e o receptor. Tendo dito isso, é a tarefa do designer gráfico fazer com que a capa de determinado livro seja atractiva, por exemplo, se tiver como público-alvo crianças, ao ponto de fazer com que os pais se atraiam pela capa e ao mesmo tempo poder seduzir as crianças (dedicarei um artigo exclusivo para falar sobre livros para crianças), sendo fiel ao conteúdo contido nas páginas.