Design deve honrar o seu objectivo

É comum ouvir que durante a elaboração de um projecto gráfico – livro, flyer, identidade visual, sinaletas, entre outros meios de comunicação visual –, o designer tem de considerar o público que irá receber essas mensagens para que, por sua vez, possa descodificar e absorver as informações contidas nelas. 

Este processo de produção até a fase em que o receptor (pessoa determinada como público) entra em contacto e descodifica a mensagem gráfica (uma peça visual, neste caso), acontece em um curto espaço de tempo. Essa instantaneidade na interação com a mensagem visual, pelo público, deve-se a natureza das linguagens visuais. Daí a importância de se determinar o público ao qual a mensagem se destina, para desta forma, estruturar ou buscar por elementos (coisas que tornam possível a materialização da comunicação visual) que façam parte do ambiente ao qual o receptor está inserido.

Hoje em dia, pensar no ambiente do receptor transcende o local físico; o receptor é um ser doptado de crenças, convicções, aspirações e necessidades resultado das experiências e perspectivas que têm da realidade. Esses factores combinados, possibilitam a articulação coerente dos elementos visuais de modo a evitar que a essência da informação seja reduzida a cada filtro que for a passar durante o processo da descodificação da mensagem. 

Para além de problemas de percepção que possam surgir por influências exteriores como o contraste das cores, por exemplo, há filtros interiores inerente a pessoa que recebe uma determinada mensagem. Em relação ao primeiro tipo de filtro (problema de percepção exterior), é um assunto que já venho abordando que está relacionado a finalidade do projecto e os meios nos quais o mesmo será divulgado. Certamente que uma peça gráfica projectada no computador irá favorecer mais aos dispositivos digitais, surgindo outro desafio que é de compreender o comportamento dessa mesma peça em meios que não impliquem a tela, como é o caso dos outdoors impressos. 

É necessário que o designer pense também, durante a concepção da peça, sobre o local em que a mesma será exposta; a luz natural exerce uma influência diferente da luz das telas sob uma peça gráfica. Entretanto, ignorar estes factos técnicos o designer poderá contribuir para o ruído no processo de absorção de informação pelo receptor.

Em relação aos filtros interiores, são percebidos, em maior parte, as limitações do repertório do público (muitas vezes resultado da negligência do designer gráfico em relação ao público que deve interagir com a peça). O que dissemos no início deste ensaio é que, o designer precisa pensar no repertório (experiências e memórias armazenadas) do público-alvo para compor uma mensagem visual. Outro problema que interfere no processo de absorção da informação é o facto de não ser considerado os valores culturais do público-alvo, como é o exemplo de algumas bancas que ao pretenderem associar uma imagem de poupança recorrem a mealheiros de porquinhos, cujo significado é universalmente conhecido, porém ele torna-se um ruído quando o público-alvo abrange a pessoas cujas crenças têm a associação de porco como algo negativo, como os muçulmanos.

Todos esses problemas, e os outros não mencionados são questões que os designers precisam ter em conta durante a prática da sua actividade. Mostra-se cada vez mais a necessidade de abordar esses assuntos evidentes pela forma que a actividade do design é encarada no quotidiano: Grita-se tanto a necessidade da peça ser atrativa, num sentido de beleza estética que são esquecidos os problemas actuais que o próprio designer tem de lidar quando se dedica à actividade de projecção, sendo a comunicação (Exceptuando alguns casos em que o propósito é específico como por exemplo, de questionar), o fim último da sua actividade.